Conheça a Swift, que pode ser a arma mais poderosa dos EUA contra a Rússia

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Vladimir Putin (à esquerda) e Joe Biden, líderes dos países que estão no centro da disputa na Ucrânia
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Categoria: Internacional

Enquanto os governos ocidentais ameaçam a Rússia com um pacote de sanções sem precedentes para impedir o presidente Vladimir Putin de ordenar uma invasão à Ucrânia, há uma medida em particular que parece causar medo no Kremlin: cortar o país do sistema bancário global.

Parlamentares dos Estados Unidos sugeriram nas últimas semanas que a Rússia poderia ser removida da Swift, uma rede de alta segurança que conecta milhares de instituições financeiras em todo o mundo.

Altos legisladores russos responderam dizendo que os embarques de petróleo, gás e metais para a Europa seriam interrompidos se isso acontecesse.

“Se a Rússia for desconectada da Swift, não receberemos moeda [estrangeira]”, disse Nikolai Zhuravlev, vice-presidente da câmara alta do parlamento da Rússia na terça-feira (27), de acordo com o veículo estatal russo Tass.

Mas a autoridade destacou que, antes de a Rússia sofrer com essa sanção, os principais prejudicados seriam os países que dependem de produtos e serviços fornecidos pelo gigante euroasiático.

“Compradores, principalmente países europeus, não receberão nossos produtos – petróleo, gás, metais e outros componentes importantes”, disse Zhuravlev.

Swift

A Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift, na sigla em inglês) foi fundada em 1973 para substituir o telex e agora é usada por mais de 11 mil instituições financeiras para enviar mensagens seguras e ordens de pagamento.

Em resumo, é um conector essencial para as instituições financeiras de diferentes regiões do mundo, e não possui substituto em termos globais.

A remoção da Rússia do sistema tornaria quase impossível para as instituições financeiras enviar dinheiro para dentro ou para fora do país, causando um choque repentino para as empresas russas e seus clientes estrangeiros, especialmente importadores de petróleo e gás comercializados em dólar americano.

“O corte encerraria todas as transações internacionais, desencadearia a volatilidade da moeda e causaria saídas maciças de capital”, escreveu Maria Shagina, pesquisadora visitante do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, em um artigo publicado no ano passado para o Carnegie Moscow Center.

A exclusão da Rússia do Swift faria com que sua economia encolhesse 5%, estimou o ex-ministro das Finanças Alexei Kudrin, em 2014.

O sistema tem sede na Bélgica e é administrado por um conselho de 25 pessoas, incluindo Eddie Astanin, presidente do conselho de administração do Central Counterparty National Clearing Center, instituição global que faz compensação, liquidação e gestão de risco em transações eletrônicas e atende clientes na Rússia.

A Swift, que se descreve como uma instituição “neutra”, está incorporada sob a lei belga e deve cumprir os regulamentos da União Europeia.

Em caso de remoção russa

Há precedente de remoção de um país do sistema. A Swift desligou os bancos iranianos em 2012 depois que eles foram sancionados pela União Europeia por causa do programa nuclear do país.

O Irã perdeu quase metade de sua receita de exportação de petróleo e 30% do comércio exterior após a desconexão, segundo Shagina.

“A Swift é uma cooperativa global neutra criada e operada para o benefício coletivo de sua comunidade”, disse a organização em comunicado na quarta-feira (26).

“Qualquer decisão de impor sanções a países ou entidades cabe exclusivamente aos órgãos governamentais competentes e aos legisladores “, acrescentou o comunicado da instituição.

Não está claro quanto apoio o governo americano possui entre seus aliados para tomar medidas contra a Rússia semelhantes às impostas pelo Irã.

Os Estados Unidos e a Alemanha são os países que mais têm a perder se a Rússia for desconectada do sistema, porque seus bancos são os que mais usam a Swift para se comunicar com as instituições financeiras russas, de acordo com Shagina.

O Banco Central Europeu (BCE) alertou os credores com exposição significativa à Rússia para que se prepararem para eventuais sanções contra Moscou, de acordo com o Financial Times.

Os funcionários do BCE também perguntaram aos bancos locais como eles responderiam a um cenário em que houvesse impedimento dos bancos russos ao sistema.

O bloco de países europeus tem reagido de maneira dura com relação à Rússia e disse que um ataque à Ucrânia geraria “sanções abrangentes nunca vistas antes” ao país governado por Vladimir Putin, disse o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Jeppe Kofod, na segunda-feira (24).

O diplomata-chefe da União Europeia, Josep Borrell, disse na terça-feira (25) que as sanções seriam a  “mais importante” arma da União Europeia contra um avanço russo na Ucrânia.

O Reino Unido também se mostrou disposto a eliminar as instituições russas do sistema. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse aos legisladores na terça-feira que seu governo estava discutindo com os Estados Unidos a possibilidade de banir a Rússia da Swift.

“Não há dúvida de que essa seria uma arma muito potente [contra a Rússia]. Receio que só possa realmente ser implantada com a ajuda dos Estados Unidos. Estamos discutindo isso”, disse Johnson.

As medidas da Rússia

A Rússia tomou medidas nos últimos anos para atenuar o trauma caso seja removida da Swift.

Moscou estabeleceu seu próprio sistema de pagamento, o SPFS, depois de ser atingida por sanções ocidentais, em 2014, quando anexou a Crimeia.

O SPFS agora tem cerca de 400 usuários, de acordo com o banco central da Rússia. Atualmente, 20% das transferências domésticas são feitas por meio do SPFS, de acordo com Shagina, mas o tamanho das mensagens é limitado e as operações são limitadas ao horário da semana.

O incipiente Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço da China (CIPS, na sigla em inglês) pode fornecer uma alternativa caso a exclusão da Rússia da Swift seja confirmada. Moscou também pode ser forçada a recorrer ao uso de criptomoedas.

Mas estas não são alternativas atraentes, por isso, a Rússia parece disposta a se manter como parte da sociedade, e pode contar com ajuda entre os países que têm empresas como membro.

“A Swift é uma empresa europeia, uma associação de muitos países participantes. Para tomar uma decisão sobre a desconexão é necessária uma decisão conjunta de todos os países participantes. As decisões dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha definitivamente não são suficientes”, disse Zhuravlev para a Tass.

“Não tenho certeza que outros países, especialmente aqueles que tem participação bem equilibrada no comércio com a Rússia, apoiarão a paralisação”, acrescentou.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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