O dono de uma fábrica ilegal de arma de fogo, preso em flagrante nesta terça-feira (8) durante operação Aurum da Polícia Federal, fornecia armamento, principalmente, para donos de maquinários usados para extração de ouro ilegal na Terra Indígena Yanomami. A informação é do delegado Gilberto Kirsch, chefe da delegacia de repressão a crimes ambientais, responsável pela investigação que chegou até o suspeito.
O delegado informou que o “armeiro”, como ele é chamado pela polícia, fornecia armas no valor de R$ 10 mil que eram negociadas diretamente com os garimpeiros donos de maquinários. Ele fazia as negociações pelo celular. Os garimpeiros compravam as armas para “proteção pessoal”, segundo o delegado.
“As armas que eram negociadas, é possível ver pelas transferências bancárias feitas, que custavam de R$ 10 mil a R$ 10,5 mi. Eram revólveres, pistolas, espingardas, apreendidas hoje. O intuito era para fazer a segurança dos garimpos ilegais, a segurança do ouro que era extraído, a segurança do próprio maquinário que tem lá dentro”, disse o delegado.
Material apreendido com suspeito que fornecia armas a garimpeiros que atual ilegalmente na Terra Yanomami — Foto: PF/Divulgação
Além disso, conforme o delegado, o armeiro também tinham como cliente qualquer pessoa que tivesse interesse em comprar armas, e não somente garimpeiros.
“Constatamos que não são grandes empresários [os clientes] atuando, mas são donos de maquinário. Os clientes desse ‘armeiro’ têm maquinas para extração de mineral. Inclusive, um deles faz excursões para dentro da Terra Indígena Yanomami para cuidar e verificar como anda a extração ilegal de minério”.
O suspeito também oferecia serviços de manutenção das armas, como limpeza, pintura e até fabricação de novas coronhas.
“Ele tinha uma oficina de armas. Nessa oficina ele realizava pinturas, limpeza. Realizava também a construção de novas coronhas, principalmente para as espingardas. Temos, inclusive, imagens de madeiras ainda em estado bruto sendo lapidadas para formar as coronhas. Foram apreendidas cinco armas montadas, canos e armas que poderiam ser montadas, inclusive alguns tambores de revolver e munições”.
Na investigação, o delegado não encontrou indícios do envolvimento dos suspeitos com facções criminosas.
“Há integrantes de facções trabalhando dentro do garimpo. Muitas vezes são integrantes foragidos, algumas pessoas até que se dizem que saíram da facção e agora tão escondidos. Mas não existe a informação de que facções criminosas estejam atuando de forma sistêmica no garimpo. A gente analisou 120 celulares e nenhum dele facções são citadas”.
Prisão do ‘armeiro’
O dono de uma fábrica ilegal de arma de fogo foi preso em flagrante nesta terça-feira (8) durante operação da Polícia Federal contra o tráfico de armas para abastecer garimpos na Terra Indígena Yanomami.
Na fábrica clandestina, foram apreendidos cinco armas de fogo, tambores para revólveres e diversos materiais para fabricação de armas, incluindo mais de 30 coronhas para espingardas.
Armas que o suspeito negociava com os grimpeiros pelo celular — Foto: PF/Divulgação
O suspeito foi preso em casa durante os cumprimentos do mandados. A PF apurou que a residência dele funcionava “uma verdadeira fábrica ilegal de armas destinadas a garimpeiros.“
A operação, denominada Aurum, cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em Boa Vista. As ordens judiciais foram expedidas pela 4ª Vara Federal criminal da Seção Judiciária de Roraima, após manifestação favorável do Ministério Público Federal.
A operação Aurum é um desdobramento de uma ação em fevereiro de 2021, que resultou na prisão em flagrante de dois garimpeiros. À época, eles foram abordados com cerca de R$ 20 mil em ouro bruto, em plena luz do dia, no Centro de Boa Vista.